top of page
impressão ao entrar no site 4.jpg

Desproporção Cefalopélvica

  • 20 de mai. de 2024
  • 4 min de leitura

“O médico disse que eu sou pequena e que não terei passagem”, “meu companheiro é grande e eu pequena, então as chances são baixas de eu ter parto normal”, “eu não tive dilatação porque o bebê não encaixou”, “não vou poder entrar em trabalho de parto porque minha pelve, segundo o médico é muito estreita e poderia ser fatal para o bebê”, “meu quadril é estreito”, etc e etc e etc… São inúmeras as desculpas que dão para dizer que a gestante não terá ou não teve o seu bebê por parto normal por causa de uma desproporção céfalo-pélvica, ou seja, a pelve da mãe é incompatível com o tamanho da cabeça do bebê. O que não é levado em conta é que não falamos apenas em tamanhos/diâmetros apenas, e, sim, em sincronia de movimento, ângulos, tamanhos e tudo junto na hora do trabalho de parto entre a pelve da mãe e cabeça do bebê.


Por que não podemos prever o futuro dizendo para uma mulher que o quadril dela não é “bom” para parir? Além da resposta óbvia que não prevemos o futuro mesmo, o quadril dessa mulher será submetido à uma série de acontecimentos durante a gestação e, principalmente, durante o trabalho de parto. Alguns hormônios, dentre eles a relaxina, irão atuar na pelve de maneira que os ligamentos, que são tão rígidos, fiquem relaxados no momento do parto aumentando os seus diâmetros e aberturas. Além disso a mulher irá parir outra pessoa, e essa pessoa, o bebê, também possui seus tamanhos e proporções independentes dos da mãe, ou seja, uma culpa a menos para ela! ;)

Essa deve ser uma das campeãs em desculpa para não se tentar o parto normal, mas de fato ela existe, porém só pode ser diagnosticada durante o trabalho de parto, ou seja, intra-parto. Como funciona: a mulher entra em trabalho de parto, as contrações ficam regulares e eficientes, a mulher entra no período chamado fase ativa do trabalho de parto, ela consegue dilatar o colo do útero totalmente (10cm), a bolsa rompe, e o bebê não encaixa na pelve, ou seja, ele não passa pelo primeiro diâmetro da pelve, passam-se algumas horas e tudo continua funcionando muito bem, porém o bebê continua no mesmo lugar, o tempo todo.


A desproporção céfalo-pélvica começa a ser diagnosticada. Quando não há mais nada evoluindo e já foi feito de tudo dentro de um parto vaginal respeitoso, o que se pode fazer agora é decidir pela cesárea ou esperar mais algum tempo dentro da segurança avaliada pelo partograma daquele trabalho de parto.


Por que isso ocorre?! Por que algumas mulheres passam por essa experiência?! Existem aquelas pessoas que vão dizer que a alma daquela mulher não estava preparada para parir, que aquela mulher não tinha aceitado passar de filha para mãe, que aquela mulher teve uma distócia emocional e não conseguiu relaxar os ligamentos do quadril porque tinha algum trauma mal resolvido, que toda mulher sabe parir, nasceu para isso, e, portanto, ela não pariu porque não “quis” lááá dentro dela. Preconceituoso? Sim. Exclui muita gente? Sim. Divide um movimento que tem o mesmo objetivo de mudar o mundo? Sim. Rasga a teoria da evolução da espécie? Muito. Falando sempre em embasamento científico, não levar em consideração que cada vez mais está difícil para a espécie humana parir de maneira natural é fingir que não somos seres em constante evolução, se é para o bem, não sei, mas com certeza nos adaptamos geneticamente para o que necessitamos. Ficamos bípedes e com cérebros cada vez maiores, corpos cada vez mais sedentários com quadris pouco móveis (peça para alguém ficar na posição de cócoras por 5 minutos, por exemplo), é a combinação perfeita para as coisas não se encaixarem tão simples assim. Cesáreas cada vez mais sendo utilizadas como opção de nascimento saudável também possam contribuir para cada vez mais existirem pelves “estreitas” e pouco móveis.


Outro fato muito importante é que a desproporção céfalo-pélvica acontece também quando o bebê não se mantém com a cabeça de maneira correta para entrar na pelve, que seria com o queixo grudado no peito e sem inclinação. Normalmente nesses casos a cabeça do bebê se mantém estendida, como se ele estivesse olhando lá para trás, e, ainda pode estar oblíquoa que é inclinada para um lado e rodada para o outro. Bebês assim nascem também de parto normal, é mais difícil porém possível. A desproporção é um conjunto de fatores que têm como resultado a interrupção do trabalho de parto no que diz respeito ao bebê entrar na pelve para entrar no canal vaginal e nascer. Cabe a equipe médica saber diagnosticar na hora certa. Não pode ser um diagnóstico precoce, que é o mais comum de ocorrer e nem tão pouco tardio. Mais uma vez a equipe atualizada em cima de evidências científicas sérias é crucial para nascimentos saudáveis de bebês e “mães”.


A mistura inter-racial é outra probabilidade de ocorrer a desproporção céfalo-pélvica. Na antiguidade não nasciam bebês de raças misturadas, justamente pela angulação e tamanhos ósseos da pelve da mãe não “combinarem” com os ossos do crânio do bebê que ela estaria gerando. Claro, hoje em dia, quase não existem mais raças puras, porém existem ainda as características mais ou menos fidedignas à alguma raça.


Resumindo, temos que levar em conta o tamanho da pelve e da cabeça do bebê, assim como os ângulos, a posição da cabeça do bebê, a movimentação do bebê para entrar na pelve e tudo isso junto combinado ao trabalho de parto (contrações efetivas e dilatação do colo do útero). Nunca deixe alguém lhe dizer que parece que você não poderá ter um parto normal por qualquer motivo que seja, essa pessoa não sabe o que está dizendo, ela apenas está passando para frente uma ignorância que insiste em continuar viva nas crenças populares.

 

 
 
 
bottom of page